quinta-feira, 31 de maio de 2007

terça-feira, 8 de maio de 2007

A NATUREZA DO AMOR

A NATUREZA DO AMOR

No Banquete de Platão, a profetisa Diotima de Mantinéia ressaltou para Sócrates, com sincera aprovação deste, que o “amor não se dirige ao belo, como você pensa; dirige-se à geração e ao nascimento do belo”. Amar é querer “gerar e procriar”, e assim o amante “busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar”. Em outras palavras, não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência; não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo.
Em todo o amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino – aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as criações humanas, em que o medo se fundo ao regozijo num amálgama irreversível. Ao abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que incorpora o Outro, o companheiro no amor. “A satisfação do amor individual não pode ser atingida...sem a humildade, a coragem, a fé a disciplina verdadeiras”, afirma Erich Fromm – apenas para acrescentar adiante, com tristeza, que em “uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista”.
E assim numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforço prolongado, receita testada, garantia de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a mar é a oferta falsa, enganosa, mas que deseja ardentemente ser verdadeira) de construir a experiência amorosa à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço..
Sem humildade e coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não-mapeada, E é esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos.
Amor Líquido. Zigmunt Bauman